Uma das coisas que estou fazendo durante a quarentena é assistir toda a minha lista de filmes da Netflix. What Happened, Miss Simone? já estava há anos por lá, e finalmente dei play… e amei! O filme documentário foi lançado em 2015, dirigido por Liz Garbus, e foi indicado ao 88º Academy Awards na categoria de Melhor Documentário de Longa-Metragem.
Sinopse
“A vida da cantora, pianista e ativista Nina Simone (1933-2003). Usando gravações inéditas, imagens raras, diários, cartas e entrevistas com pessoas próximas a ela, o documentário faz um retrato de uma das artistas mais incompreendidas de todos os tempos.” (Adoro Cinema)
O nascimento de Nina Simone
Eunice Waymon, conhecida pelo seu nome artístico Nina Simone, nasceu em Tryon, na Carolina do Norte, em 1933. Começou seus estudos de piano clássico quando era pequena, na igreja, já que a mãe era pastora. Sua professora era branca, muito rígida, e Nina tinha medo dela. Ela treinava de 8 a 9 horas por dia, e quando mais velha, aplicou para estudar na Curtis Institure of Music, na Philadelphia, mas por ser negra, foi recusada.
Ela começou, então, a tocar em um bar durante o verão, para conseguir juntar dinheiro. Além de tocar piano, ela começou a cantar, por pressão do dono do bar. Seu nome? Adotou Nina Simone para que sua mãe não a reconhecesse. Pegou ”Niña”, que significa pequena, apelido que um ex-namorado a chamava, e Simone veio da atriz francesa Simone Signoret.
Nina transformava toda e qualquer música na sua própria experiência e interpretação. Sua primeira grande apresentação foi no Newport Jazz Festival, em 1960, e desde então não parou mais. Ela, então, era Nina Simone 24 horas por dia, e isso virou um problema. Quando ela se apresentava, ela era amada. O palco era o lugar onde ela podia usar a voz para seu povo. Mas, quando os shows acabavam, ficava sozinha para lutar contra seus próprios demônios.
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Algumas reflexões…
What Happenned, Miss Simone? é um dos documentários mais pesados e emocionantes que já assisti. Nina Simone é um dos maiores ícones da música, principalmente do jazz. Teve uma vida de muita popularidade, mas também de muita luta e momentos de angústia e sofrimento.
Com a fama, vários problemas vieram. Seu marido era super abusivo. Era aposentado da polícia, virou seu agente e a fazia trabalhar incansáveis horas, shows após shows. Além do abuso psicológico, houve violência física, a ponto de Nina pedir socorro para seu amigo e guitarrista Al Shackman. Ele participa do documentário dando alguns depoimentos, o que me deixou revoltada, já que suas falas são ditas como se nada do que ele fez tivesse sido grave.
Além do marido, temos a participação de sua filha Lisa, que também teve seus problemas pessoais com a mãe, devido as suas constantes mudanças de humor, e certas atitudes violentas. Depois de anos, entenderam que Nina tinha Transtorno Bipolar, e sofria há anos com isso. Lisa demorou muito tempo para perdoar e entender todos os problemas físicos e psicológicos que sua mãe sofreu, e a apoiou no fim de sua vida.
Importância de sua música e de seu ativismo
Miss Simone era, e continua sendo, um grande símbolo do ativismo negro. Ela participava ativamente de causas, manifestações e qualquer luta em prol da liberdade e vida da comunidade afro-americana. Sua música, “Mississippi Goddam” chocou a todos e foi proibida de tocar em rádios. O motivo? Além de conter xingamentos, ela relata o assassinato de quarto crianças em uma igreja do Alabama, em 1963. A canção se tornou um hino do ativismo negro.
Eu vejo a Nina Simone como uma mulher que teve uma vida difícil, em todos os sentidos possíveis. O seu sonho de criança era ser uma pianista clássica, e acabou sendo uma das vozes mais amadas do mundo inteiro. Acredito que o combo “marido abusivo + transtorno bipolar + trabalhos exaustivos + ativismo” amplificou todos os demônios interiores que ela afirmava ter. Ela chegou a ficar 8 anos sem se apresentar, se isolou na Liberia, e querendo ou não, ela acabava reproduzindo a violência que sofreu, como sua filha cita em certos momentos.
Por fim, percebo que no fim da sua vida, ela encontrou o modo feliz de viver. Morou no sul da França, por volta de 1993, se sentia mais confortável e voltou a se apresentar pro público. Já recebeu 15 indicações ao Grammy, e em 2000 recebeu o Grammy Hall of Fame Award. Dois dias depois de sua morte, recebeu um diploma honorário da Curtis Institute, mesma escola que a recusou quando tinha 19 anos.
Já assistiu ao documentário? Comenta aqui o que achou de What Hppenned, Miss Simone?
Fiquei arrepiada lendo esse, amiga! Preciso assistir, com certeza… é complicado a gente ‘julgar’ porque toda história tem seus 3 lados, né? o lado de um, do outro e o da verdade. Deve ter sido muito difícil pra ela conviver com tanta coisa, todos os seus demônios e ainda ter que se apresentar como se nada tivesse acontecendo. É um histórico de muito medo também de se expor e falar por aí o que nós como mulheres e ainda mais ela como mulher negra passou! Adorei esse post!
Miga, tu PRECISA assistir! É uma história muito pesada, forte e emocionante.
Obrigaada! ♥