Aos 19 anos, a brasiliense Manuela Korossy recebeu sua carta de aceitação da Juilliard School, uma das melhores escolas de artes performáticas do mundo, que fica em Nova York. A artista está se preparando para iniciar seus estudos em setembro, e compartilhou com o IM todo o seu processo de aplicação, além de informações sobre a vaquinha online para ajudá-la na realização desse sonho. Confira a entrevista completa abaixo!
Pra começar, conta pra gente quem é Manuela Korossy?
“Bom, eu diria que se fosse pra eu me descrever, acho que a minha principal característica seria perseverança. Talvez seja até uma mania de acreditar em coisas grandes de mais, às vezes, mas fazer por onde elas acontecerem e nunca confundir talento com dispensar o trabalho. Eu acho que talento sem trabalho não leva ninguém a lugar nenhum. Então, eu diria que sou uma pessoa, ao mesmo tempo idealista, só que muito realista e que trabalha muito. Isso é uma coisa que eu acredito que seja uma característica muito boa minha.
Mas que acredita. Que acredita que as coisas podem acontecer, que as coisas podem melhorar, e que por causa dessa crença em situações às vezes até absurdas, como por exemplo, fazer a prova da Juilliard, eu me torne uma pessoa muito resiliente. Então, acho que diria perseverança, talvez seja minha principal característica. E um pouquinho de inteligência também, pra ser honesta. (risos).”
Como começaram seus estudos na música? Sempre soube que entraria no mundo do canto erudito?
“Começaram eu era bem pequena, tinha 7 anos, fiz um projeto de musicalização da UNB, do Ricardo Freire. À priori, eu queria estudar piano, mas eu nunca dei muito certo com piano (risos). Eu era uma criança meio indisciplinada pra estudar instrumento. E na verdade, esse meu processo de cantar foi muito de descoberta. Eu sempre gostei de cantar, desde que eu era criança assistia muita ópera, musical… Então, eu gostava de cantar, só que nunca pensava nisso como carreira. Na minha cabeça, quando eu era pequena, eu ia estudar pra ser pianista, né… Mas também, na minha cabeça, eu ia ser bailarina, então, eu a ser um monte de coisas (risos).
Foi justamente quando entrei na musicalização infantil da Escola de Música (de Brasília), que eu comecei a cantar em coro, que eu comecei a entender que não era bem piano que era o que eu sabia fazer, e o que eu gostava de fazer. Então, foi uma descoberta gradativa, ter participado do coro infantil da Carmen (ópera de Georges Bizet), em 2013, foi, com certeza, um ponto decisivo, porque mudou completamente a minha visão da coisa. Mas foi muito mais um processo de auto descoberta, do que tipo, nasci com essa ideia!”
Em resumo, como foram os últimos anos de estudos na EMB e UNB? O que a Manuela tirou de aprendizado nesse tempo?
“Bom, foram anos que eu aprendi muita coisa, mas que eu também redescobri, digamos, o meu processo de aprendizado. Porque é muito diferente você estudar uma área prática, uma área que você trabalha com o corpo, de estudar alguma coisa acadêmica. Então, eu aprendi a aprender durante esse tempo de estudo, voltado especificamente pro canto. Eu tive que aprender, cada vez mais, a trabalhar mais em grupo, que é uma coisa com a qual eu tenho um pouco de dificuldade.
Por ter um ritmo de trabalho muito acelerado, e por aprender muito rápido as coisas, às vezes eu me torno uma pessoa um pouco impaciente. Então, isso foi um aprendizado muito importante que eu adquiri durante esses anos, principalmente trabalhando com outras pessoas em palco, durante as duas óperas que eu cantei. E acho que isso talvez seja um dos aprendizados principais durante esse período de estudo que a gente tem antes de ingressar numa carreira, né? Que é entender que, independente da carreira que você opta, você nunca vai trabalhar só. Isso também muda muito a forma de aprender. Às vezes, a gente aprende muito observando o outro, não só estudando numa sala de ensaio.”
Quando surgiu a vontade de estudar na Juilliard?
“Na realidade, ela sempre existiu. Como eu disse, eu ingressei na arte muito cedo, eu dançava antes de entrar na música, eu comecei a estudar música muito cedo também. Então, é aquela coisa, todo mundo que é da performance, que é da música clássica, ou do ballet, ou de qualquer área mais tradicional, conhece a Juilliard. É aquela coisa ‘quero estudar na Juilliard’, mas sempre foi uma coisa muito ‘cara, não vai acontecer, né? acorda!”. A Juilliard só tinha audições em Nova York. Só que durante a pandemia, pela primeira vez na história, uma escola de quase 120 anos, eles abriram audição online.
Como foi o processo de preparação?
Eu entrei em contato com um professor de lá, ele disse ‘faz a audição, você tá super apta a competir’, e aí eu não pude perder a oportunidade. Invariavelmente, seria muito mais barato do que ir à Nova York fazer a audição. Mas eu fiz a audição assim, meio que ‘de rolê’, sem acreditar muito que daria certo. E pra minha surpresa, deu certo, não só deu certo como eu ganhei uma bolsa bastante alta, e as bolsas da Juilliard são dadas por necessidade e por mérito, então ter ganho essa bolsa significa muito. Inclusive pro meu processo de crescimento artístico e de aprimorar a minha performance. Significa que eles realmente gostaram do trabalho que eu fiz, e agora eu espero que dê certo, que eu consiga chegar lá em setembro.
Como foi uma prova feita muito rápida, porque eu fiquei sabendo dela dois meses antes das inscrições abrirem – mas acabei enviando faltando dois dias pras inscrições fecharem – eu tive que pensar em tudo muito rápido, e estudar as coisas muito rápido. Fiz trabalho de correpetição, trabalhei com os meus professores de canto. Só que geralmente é uma prova pra qual as pessoas se preparam durante dois, três anos, e eu tive que fazer em oito meses, praticamente. Então, eu tive que fazer realmente com muita frieza, muita ponderação. Eu acho que o que, realmente, me salvou, me possibilitou de entrar, foi ser muita esperta na escolha de repertório. Essa coisa de não querer mostrar serviço demais, mas realmente fazer o que eu faço bem, e o que eu tenho confiança de levar pra uma banca.”
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O que você acha que te ajudou e que pode ajudar futuros aplicantes?
“Às vezes, é muito melhor você seguir a intuição e fazer o que você sente que vai ter um bom resultado, do que fazer o que é esperado. Foi exatamente o que eu fiz, e me deu de fato um bom resultado. Porque as bancas desses grandes conservatórios – isso é uma coisa que eu tô dizendo pra todas as pessoas que vem me perguntar da minha aplicação – elas não querem ser impressionadas. O aplicante tem que partir do pressuposto que ele não vai impressionar, porque ele tá lidando com profissionais que trabalham diariamente com os melhores do mundo, né. Então, você tem que mostrar o seu melhor, você não tem que mostrar que você é um profissional.
Ir com essa mentalidade me ajudou muito, de respeitar os meus limites, e identificar o que seu faço bem e o que eu não faço tão bem. E explorar o que eu faço bem, e não mostrar tanto o que eu não faço tão bem. E eu acho que isso é um processo de consciência que ajuda muito a gente, quando a gente vai fazer qualquer processo de admissão, ou de preparar programa de concerto, etc.
A gente tem que saber trabalhar o que a gente precisa trabalhar, mas na hora de mostrar, tem que mostrar o que vale a pena mostrar. Então, é uma prova que eu diria que, pra você se dar bem, você tem que ter inteligência, e usar a prova ao seu favor. Não cair no senso comum, no ‘diz que me disse’, e fazer o máximo de pesquisa, e fazer com o máximo de certeza possível. Ser muito, realmente, racional.”
Quais são os próximos passos antes de começar os estudos em setembro?
“Os próximos passos são: cuidar da papelada. Mas por hora eu tô impedida de fazer isso, porque eu ainda não aceitei a minha admissão. Eu tô esperando um processo de revisão da minha bolsa pra tentar aumentar um pouco o meu desconto. E levantar o dinheiro. Apesar da minha bolsa ser alta, deu quase 90% de bolsa, ainda é muito caro por conta da cotação do dólar. Então, eu tô com uma vaquinha virtual aberta, e tô tentando achar algumas bolsas privadas, só que tá muito complicado porque a maioria das bolsas são voltadas pra estudantes de exatas. Então, a minha esperança é que essa vaquinha tenha alcance o bastante pra possibilitar a minha ida. Por hora, a gente vai correndo, vai fazendo o que é possível. Mas vai dar certo! Eu vou conseguir chegar, vou dar um jeito.”
O que você acha que a Manuela de 2017 pensaria se soubesse que seria aceita na Juilliard anos depois?
“Com certeza eu teria me planejado muito melhor (risos). É porque, realmente, ela é uma prova que demanda muito planejamento. Inclusive, vou responder novamente uma coisa que me perguntou lá em cima: é uma prova que demanda que você tenha tudo muito organizado e faça a prova com frieza. Então, se eu soubesse que faria essa prova, eu com certeza teria ponderado melhor algumas coisas, e começado a me preparar antes, porque isso teria me poupado muito estresse, inclusive nessa etapa que eu tô agora, e na anterior.
Mas, seria um sentimento de muito orgulho, né? Porque é o resultado de 3 anos de trabalho de estudo de canto, só que de uma vida de estudo de música. Assim, a gente fala que a gente não pode precisar de validação pra fazer o que a gente faz, só que é uma forma de validação muito importante. É um feedback muito bom, e eu posso ter a certeza de que eu tô num bom caminho, né. Então, seria um sentimento maior de certeza, que me impediria de duvidar do que eu tô fazendo em alguns momentos. Que, enfim, todo artista tem, e toda pessoa que trabalha expondo seu próprio trabalho acaba tendo em algum momento, mas uma hora ou outra, a gente descobre qual o caminho mesmo que a gente tem que seguir, né?”
Agora, Manuela, onde se vê daqui 5 anos? O que quer conquistar?
“Indo pra Nova York, minhas próximas metas de vida são dois concursos de canto, um que vai acontecer daqui dois anos, e outro que não tenho certeza que é anual, mas são: Paris Opera Competition e o Metropolitan National Contest. São concursos que pretendo trabalhar estando na Juilliard. E encontrar esses caminhos de grandes concursos pra canto que, enfim, estando em Nova York são muito mais fáceis de localizar e de participar. E, quando eu me formar, quero entrar pra um opera studio em algum teatro grande pra iniciar a minha carreira. Mas ter o máximo de experiência em palco e o máximo de experiência de performance durante o processo, porque é uma profissão que a gente, realmente, só aprende fazendo, né? E é isto!”
Confira abaixo a vaquinha que está rolando pra ajudar a Manuela a realizar o sonho de chegar na Juilliard em setembro! Colabore com o valor que você puder, e compartilhe o link com o máximo de gente que conseguir!
Incrivel!
É tão bom ler conquistas das pessoas de nossa nacionalidade, sinto como se fosse familia.
Me motiva a ir atrás de meus sonhos também.